segunda-feira, 28 de março de 2011

Das aulas desorganizadas



Perguntaram-me, hoje, a respeito de uma determinada disciplina que assisti em semestres passados. Respondi que, a meu ver, o professor que a ministrou poderia ter sido mais organizado. Sempre que falo isso, parece que nem todos entendem o sentido dessa expressão: "organização de aula". Esta consiste na condução vetorizada do pensamento do aluno pela matéria exposta. Acredito que seja a coisa mais difícil a ser feita por um professor, porém a mais essencial. A maioria dos professores usam o quadro e a exposição oral para dar conta desse requisito de organização da aula. Alguns apelam para recursos mais sofisticados (data-show ou esquemas impressos, p. ex.). Não importa o método, o trabalho mais básico e fundamental seria o de organizar o conteúdo numa sequência que facilitasse a sua compreensão, por parte do aluno.
Organização não significa simplificação ou "nivelamento por baixo". É apenas um ordenamento racional de ideias, que pode ser externado na forma de um esquema, num simples rol de conceitos a serem desenvolvidos, ou mesmo num complexo organograma.
O que parece evidente é que nem todo professor tem muita facilidade com a organização de sua aula. Elementos extra-acadêmicos conseguem tirar a aula do prumo, tais como a conversa paralela, as perguntas fora de hora ou fora do tema, os alunos de participação expansiva (aqueles que não perguntam, mas formulam tese de doutorado), os loucos de todos os gêneros e outros. Entendo que é difícil organizar as coisas nestas circunstâncias. Penso, ainda, que outros requisitos existem para resolver esse tipo de situação, e cada professor tem um jeito especial de trabalhá-los. Entretanto, o sucesso de uma aula deve sempre estar calcado no requisito mínimo da organização. Não sei se o leitor já prestou atenção, mas em aula organizada, nem a conversa no fundão atrapalha muito.
Particularmente, gosto dos professores que organizam esquematicamente a aula. Começam dizendo "hoje, com relação ao tópico tal, vamos estudar: a) seu conceito; b) suas características; c) base legal; d) tratamento jurisprudencial". Em seguida, começa com a exposição nessa ordem, sem fugir do que foi esquematizado e sem longas digressões ou mudanças de assuntos. Espaço para perguntas, de preferência, ao final de cada sub-item. Além disso, a cada aula, o professor consegue mapear uma espécie de índice de sua aula, deixando claro aos alunos em que ponto do programa se encontra e para onde está caminhando.
Entretanto, esta é apenas uma maneira de organizar a aula, que espelha uma preferência pessoal. Há outras maneiras, a depender, em muito, do caráter da disciplina ministrada e do perfil do professor. Há alunos que preferem outros tipos de aulas, mais dinâmicas, mais interativas etc. É, repito, uma questão de preferência. Não obstante, a organização não depende de perfil, devendo permear todos os modelos de aula.

Ricardo Orsini – ricardo.orsini@gmail.com

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