terça-feira, 7 de junho de 2011

Dos alunos que não querem nada com nada

 


Sala de aula. Meu celular recebe uma mensagem de texto. Era L., perguntando se o professor havia dado indícios de que iria fazer chamada naquele dia. Respondo que não, que ela podia ficar tranquila.

Vejo vários professores questionarem a postura de alunos desinteressados, que não se envolvem com as atividades, não assistem às aulas, e que, inexoravelmente, terão como castigo um destino implacável: "não serão nada na vida". Às vezes, esse predição superegóica é ainda mais específica: "não conseguirão passar no exame da OAB e venderão churrasquinho na feira". Eu mesmo, na irritação de ver a aula atrapalhada pela cambada do fundão que não para de conversar, mesmo com a chamada já realizada, faço tais predições. Nessas horas, se dependesse de mim, estavam todos no limbo do sub-emprego, seriam eternos estagiários, condenados a tirar cópia autenticada de documento, no cartório da rua 7, em horário de pico.

Entretanto, a cada dia que passa, a cada frustração com a sala de aula, me pergunto o quão válida é a generalização apressada construída no parágrafo anterior. A minha colega L. é um bom contra-exemplo de como as coisas não funcionam exatamente daquela forma, pelo menos não em todos os casos. Ela costuma tirar as melhores notas nas provas, é sempre focada nos estudos, apesar de estudar apenas o necessário para fechar as provas. Não assiste aulas que considera inúteis, fazendo o cálculo do números de faltas estritamente necessárias para não reprovar por frequência. Sempre que pode, responde à chamada e vai para a biblioteca, estudar para concurso. Não na biblioteca da PUC – que é barulhenta –, mas na do TRT, sempre povoada pelos concurseiros profissionais. Que futuro estará reservado para uma aluna como ela?

Admito que existe realmente um bando de alunos desinteressados mesmo. E o bando não é pequeno. Mas, cabe um questionamento aqui: o que aconteceria se boa parte deles começasse a se dedicar integralmente a todas as disciplinas, levasse absolutamente a sério todas as aulas, incorporasse ao seu patrimônio acadêmico todas as preleções de todos os professores?

Já até tentei, no primeiro período, ser esse tipo de aluno. Posso ter errado na estratégia, posso não ter a competência necessária, mas só me lembro de quebrar a cara. Foram dias de dedicação a trabalhos que não eram corrigidos, horas a fio assistindo aulas que não diziam nada, páginas e páginas de obras que, mais tarde, descobri fazer parte de uma literatura irrelevante e pouco sintonizada com a ciência jurídica.

Mas, estou aprendendo as lições de L: aluno exemplar não significa, necessariamente, sucesso acadêmico. Juro que queria ter a convicção de um excelente professor e ter como válida um enunciado condicional que, recentemente, foi por ele proferido: "o sucesso só virá se vocês estudarem bastante, não apenas para concurso, mas para a vida". A essa altura do "campeonato", soa bem "auto-ajuda", não soa?

Ricardo Orsini – ricardo.orsini@gmail.com

3 comentários:

  1. L. é minha guru!! =D
    Adorei o texto. Assim como vc, caro colega, eu também tentei ser uma aluna exemplar no 1º período e também perdi meu tempo, da mesma forma que vc! Hoje, estou focada, assim como L., já que é preciso foco para lutar nesse mundão de possibilidades! ;D
    Abç, Juliana Tavares.

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  2. Obrigado Juliana, é de foco que nós precisamos mesmo!

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  3. Sempre dei o meu máximo, independente da disciplina, do professor ou de qualquer outra coisa. Fui aluno expoente durante todos os períodos cursados, apesar de não ter sido 100% em todas as disciplinas (pois sempre gostamos mais de umas e menos das outras), não me decepcionei nem um pouco, pois sempre acreditei no meu estudo como a forma de superar as dificuldades. Fui ótimo aluno por mim mesmo. O problema é que hoje em dia existe muitos que nada querem, e isso estraga a escola.

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